Como você deve ter visto, as tartarugas marinhas são quelônios e fazem parte da Ordem Testudines junto aos jabutis (quelônios terrestres) e cágados (quelônios de água doce).
Como os quelônios ocupam habitats diferentes, possuem adaptações únicas. No caso das tartarugas marinhas, suas patas são modificadas em nadadeiras.
Além disso, estes animais pertencem à subordem Cryptodira (Grego, crypto = escondido, dire = pescoço), que são quelônios que retraem a cabeça para dentro do casco, curvando o pescoço na forma de um S vertical. São divididos em duas famílias: Cheloniidae e Dermochelyidae.
Família Cheloniidae
O seu nome é originário do latim e significa “nadador”. A família inclui seis espécies: Caretta caretta, Chelonia mydas, Eretmochelys imbricata, Lepidochelys olivacea, Lepidochelys kempii e Natator depressus. Essas duas últimas são as únicas que não encontramos no Brasil. Natator depressus, também conhecida como tartaruga do casco plano é encontrada principalmente na Austrália, seu casco é o único que tem as bordas voltadas para cima. Já a Lepidochelys kempii, conhecida como kempii, vive no Golfo do México e Costa Atlântica dos EUA.
Família Dermochelyidae
A família Dermochelyidae inclui somente a espécie Dermochelys coriacea, conhecida como “tartaruga de couro” devido à carapaça formada por ossículos imersos em cartilagem, criando um revestimento semelhante ao couro. Ela tem aproximadamente 2 metros, é a maior das tartarugas marinhas e também é conhecida como tartaruga gigante.
Das 7 espécies de tartarugas que existem, 5 estão presentes na costa brasileira. Dentre elas, a tartaruga de oliva, de pente, cabeçuda, verde e de couro.
Lepidochelys olivacea (Tartaruga-oliva)
É a menor tartaruga marinha e possui uma coloração dorsal verde oliva, o que originou seu nome popular. É a tartaruga que atinge a maturidade sexual mais cedo do que as outras, isto é, está pronta para se reproduzir, mais cedo do que as outras, sendo este tempo em torno de 11 a 16 anos.
Eretmochelys imbricata (tartaruga-de-pente)
Esta tartaruga foi muito explorada comercialmente, pois as placas que compõem a sua carapaça são sobrepostas, permitindo que fossem retiradas para fabricar produtos, como pentes. A sua mandíbula é em formato de “bico de aguia” o que permite sua alimentação em recifes de corais.
Caretta caretta (tartaruga-cabeçuda)
Seu nome popular foi dado devido ao tamanho relativamente desproporcional da sua cabeça com o corpo e é a tartaruga com o maior número de desovas nas praias brasileiras.
Chelonia mydas (tartaruga-verde)
Seu nome popular é porque quando adultas são herbívoras e se alimentam de algas, deixando a gordura corporal de cor esverdeada.
São espécies cosmopolitas e comuns na região costeira brasileira. Esta é a espécie com maior número de ocorrências (encalhes, avistagens, capturas incidentais em pesca).
Dermochelys coreacea (tartaruga-de-couro)
Recebe esse nome por não possuir carapaça formada por placas. Pesam em média 500 kg, mas há registros de animais com mais de 900 kg.
Usa sua gordura para se proteger do frio, pois não conseguem manter a temperatura do corpo de acordo com o ambiente. Vive em águas oceânicas durante maior parte da vida e são campeãs em mergulho profundo e migração transatlântica.
Curiosidade
Em 2021, houve uma desova atípica de tartaruga-de-couro, espécie criticamente ameaçada de extinção, que buscou a faixa de areia do município de Itanhaém, os ovos não estavam fecundados. Apesar disso, é uma ocorrência muito rara, visto que geralmente essa espécie desova em Regência, no Espírito Santo, e se trata de um registro de grande interesse para conservação de tartarugas.
Confira a seguir o relato de uma desova atípica de tartaruga-de-couro no município de Itanhaém, no litoral do Estado de São Paulo.
Entre os dias 19 de fevereiro e 17 de março de 2021, uma tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea) fez três desovas em praias de Itanhaém, no litoral sul de São Paulo. A primeira ocorreu na praia do bairro Suarão, na noite do dia 19 de fevereiro; a segunda, na noite do dia 5 de março, na praia do bairro Satélite, e a terceira no Praião, no centro do município, no dia 17 de março. Nesse último caso, a desova propriamente dita não foi presenciada e só pode ser evidenciada pelos rastros deixados na areia. É importante mencionar que, muito provavelmente, essa mesma fêmea já havia sido avistada alguns dias antes da primeira desova, ainda na água, na praia do bairro do Canto do Forte, em Praia Grande (SP), município vizinho a Itanhaém. Esse avistamento, bem como a saída do indivíduo para a areia na ocasião das desovas, foram notificados por meio de acionamentos e equipe do Instituto Biopesca se manteve de prontidão desde o primeiro aviso.
Nas duas desovas, os profissionais do Biopesca acompanharam a postura desde o seu início até o regresso da fêmea para o mar. Ela foi anilhada quando fez a primeira postura, procedimento que colabora com os estudos de conservação da espécie.
O Instituto Biopesca providenciou estruturas de proteção para os três ninhos, consistindo em cercas e placas informativas e de aviso de área de desova. Também foram instaladas câmeras de monitoramento, cujas imagens foram transmitidas em tempo real nos sites do Instituto Biopesca e da Mineral Consultoria Ambiental. As equipes do Instituto Biopesca que executam o monitoramento do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos vistoriavam diariamente o local e, além disso, o Instituto Biopesca contratou uma equipe de vigilância particular para vigília constante dos ninhos.
A instituição também manteve monitores responsáveis por ações de educação ambiental a fim de sensibilizar os visitantes dos ninhos a respeito da importância da conservação do ecossistema marinho. Esse serviço, em particular, foi suspenso em decorrência da necessidade de adoção de medidas de prevenção ao contágio da covid-19.
Desde o dia da primeira desova, o Instituto Biopesca fez a atualização constante das informações a respeito dos ninhos em suas mídias na série “Diário dos Ninhos”, criada como estratégia de comunicação para não só sensibilizar os seguidores a respeito da importância da conservação marinha, mas também para alinhar as expectativas em relação ao nascimento dos filhotes, já que as chances desse fenômeno ocorrer eram, de fato, muito baixas.
No dia 8 de maio, uma forte ressaca atingiu o primeiro ninho e, ao remover a areia, deslocou os ovos, que foram recolhidos pela equipe do Instituto Biopesca antes de serem levados pela água. Foram coletados 103 ovos e nenhum estava fecundado (sem embriões), conforme constatado por meio de análises laboratoriais. Diante desse resultado e por já se encontrar no 80° dia desde a postura, o segundo ninho teve uma intervenção dos profissionais da equipe do Instituto Biopesca, operação que não ofereceria nenhum risco aos ovos na eventualidade de estarem fecundados e adotada porque os fatores ambientais – em particular, o esfriamento da areia por conta da queda da temperatura – não estavam favoráveis. O calor da areia é fundamental para o desenvolvimento dos ovos.
Foram recolhidos 121 ovos, também não fecundados, conclusão possível após análise em laboratório. Essa operação ocorreu na manhã do dia 25 de maio e, na noite desse mesmo dia, a maré invadiu a área do terceiro ninho, derrubando duas placas, dois postes e a cerca de proteção. A força da água também removeu a areia e, mais uma vez, a equipe do IBP interviu antes que os ovos fossem levados pelo recuo da maré. No total, foram recolhidos 96 ovos, também não fecundados.
A estrutura dos ninhos foi desinstalada logo após o recolhimento dos ovos.
O Instituto Biopesca é uma das instituições executoras do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), uma atividade desenvolvida para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal das atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural na Bacia de Santos, conduzido pelo Ibama.
Esse projeto tem como objetivo avaliar os possíveis impactos das atividades de produção e escoamento de petróleo sobre as aves, tartarugas e mamíferos marinhos, por meio do monitoramento das praias e do atendimento veterinário aos animais vivos e necropsia dos animais encontrados mortos. O projeto é realizado desde Laguna/SC até Saquarema/RJ, sendo dividido em 15 trechos. O Instituto Biopesca monitora o Trecho 8, compreendido entre Peruíbe e Praia Grande.
Referências
POUGH, F. Harvey, A Vida dos Vertebrados. São Paulo: Editora Atheneu, 1993.
Autoria
Sofia Marcela Morro Pozo
Bolsista de Iniciação Científica do Projeto Temático Biota/FAPESP Proc. nº 2016/05843-4.
Muito boom e interessante!