Das cerca de 850 espécies de plantas carnívoras conhecidas, mais de 500 ocorrem no Brasil. Saiba mais sobre elas!
por Pedro Luna
Há mais de 500 espécies de plantas carnívoras nas matas brasileiras. A maior de todas é Drosera magnifica, que pode alcançar 1,5 metro de comprimento. Descoberta em 2015, ela cresce nas montanhas ao redor de Governador Valadares (MG), onde é conhecida como orvalhinha, devido às gotículas reluzentes e pegajosas que cobrem as folhas longas e finas, de um vermelho vivo. A planta recorre às suas cores vivas para atrair as presas, como pequenos insetos voadores, que ficam presos na substância viscosa, sendo digeridos por enzimas secretadas pela planta.
“Hoje conhecemos mais de 850 espécies de plantas carnívoras, divididas em onze famílias. Quase todas são angiospermas, ou seja, plantas com flores. Mas também há um punhado de musgos carnívoros”, explica o botânico Vitor Miranda, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCVA), campus de Jaboticabal, da Unesp.
De acordo com Miranda, o Brasil possui uma das maiores diversidades mundiais de plantas carnívoras. Aqui são encontradas 60% de todas as espécies. “Entre as mais de 500 espécies carnívoras que ocorrem no Brasil, há plantas de todos os tipos: terrestres, aquáticas, plantas que vivem sobre outras plantas usando-as como suporte (epífitas), ou sobrevivem no Cerrado em cima de rochas a 48ºC (litófitas), ou ainda na forma de reófitas, restritas às corredeiras e cascatas dos rios e riachos”.
Apesar de possuirmos a maior diversidade mundial de plantas carnívoras, o laboratório de Miranda é o único no Brasil voltado exclusivamente ao seu estudo. Em todo o mundo existem apenas outro quatro laboratórios voltados à investigação da carnivoria em plantas. É pouco.
ADAPTAÇÕES INDEPENDENTES
Como quaisquer angiospermas (as plantas florescente), as plantas carnívoras dependem dos insetos para a sua polinização. No caso das carnívoras, este papel é frequentemente desempenhado pelas abelhas. E, assim como quaisquer plantas, as carnívoras realizam fotossíntese. Mas apenas a fotossíntese não basta para a sua sobrevivência. As carnívoras precisam complementar sua nutrição com nitrogênio e fósforo que obtêm de suas presas, como pequenos insetos, larvas, protozoários e microcrustáceos.
Durante a conversa com Miranda, para mim o fato mais curioso foi descobrir que as mais de 600 espécies de plantas carnívoras não têm um ancestral comum. “A carnivoria surgiu de forma independente ao menos nove vezes”, explica Miranda. “Em cada uma delas, uma linhagem teve que superar algum problema para sobreviver, adaptando suas estruturas para conseguir alimento por outros meios”.
Apesar de não aparentadas, o que todas as onze famílias de plantas carnívoras têm em comum é o desenvolvimento de estruturas adaptadas para realizar quatro ações: capturar e matar suas presas, para então dissolvê-las e absorver os produtos da digestão.
TIPOS DE ARMADILHAS
Ao longo de sua evolução, as carnívoras desenvolveram uma grande variedade de armadilhas para se adaptar aos ambientes mais desafiadores. Há famílias com folhas grudentas, como mata-moscas. Uma vez que a presa nelas pousa, fica imobilizada e não foge mais. Aí, as mesmas substâncias que imobilizam a presa agem para dissolvê-la e digeri-la.
Há armadilhas em forma de saquinhos com paredes escorregadias. Uma vez lá dentro, a vítima se afoga no líquido que irá dissolvê-la. Há também armadilhas que se fecham sobre a presa feito arapucas ou ratoeiras. Ou centenas de tentáculos pegajosos que aderem à vítima. Uma vez capturada a presa, a haste cheia de tentáculos se verga em torno da vítima, de modo envolvê-la num abraço letal até asfixiá-la, e então dissolvê-la.
“Cada família tem uma adaptação diferente”, diz Miranda. “Além das folhas, outras partes da planta podem formar estruturas semelhantes a gaiolas ou orifícios de sucção, acionados pelo movimento ou peso da presa”.
A maior das famílias de carnívoras é a das lentibulariáceas, com três gêneros e mais de 370 espécies. Nela, há plantas cujas folhas são cobertas por glândulas que produzem uma solução pegajosa para prender a presa. Há também folhas em espiral que formam um tubo para guiar a presa até o local de digestão.
SAIBA MAIS!
Se você se interessou e quer aprender mais sobre plantas? Então consulte o nosso conteúdo sobre “Angiospermas e agricultura”.