Pesquisadores da UFPA lutam para salvar peixes-boi órfãos da Amazônia e reintroduzi-los à natureza

por Pedro Luna

Pesquisadores da UFPA lutam para salvar peixes-boi órfãos da Amazônia e reintroduzi-los à natureza

Para tanto, é necessário determinar a identidade de cada bichinho. Eles podem ser da espécie amazônica, podem ser da espécie marinha, ou até mesmo híbridos, e estéreis.

O peixe-boi amazônico é um animal dócil e adorável. Quem quer que tenha tido a oportunidade de conhecer ao vivo um de seus filhotes sabe como são lindos e indefesos. Eles passam muito tempo sob a proteção dos pais enquanto desmamam, e mais tempo ainda até crescerem o suficiente para sobreviver por conta própria nos rios da Amazônia. 

O peixe-boi passa a vida se alimentando de plantas submersas. Chega a atingir 2,5 metros e pesar mais de 300 quilos. São doces gigantes que não oferecem risco a ninguém. Por isso mesmo são tão fáceis de matar, o que geralmente acontece com um tiro na cabeça disparado quando o animal sobe à superfície para respirar. 

O peixe-boi da Amazônia é uma das espécies mais ameaçadas de extinção no Brasil. As principais ameaças são a caça ilegal, a destruição do seu habitat e a liberação de mercúrio nos rios. 

Por isso mesmo são tão importantes todas as iniciativas de conservação da espécie. O Zoológico da Universidade da Amazônia (ZOOUNAMA) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), por exemplo, acolhem todos os anos dezenas de filhotes resgatados após a morte dos pais. Os órfãos são enviados de toda a Amazônia para centros de recuperação, onde são tratados e preparados para a reintrodução à natureza.

o peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis)(crédito: Fábia Luna/ICMBioCMA –
CC BY 3.0)

Antes de reintroduzir os animais à vida selvagem, é preciso se certificar de que o órfão resgatado é um peixe-boi amazônico (Trichechus inunguis), ou é um peixe-boi-marinho (ou manatim, Trichechus manatus) ou até mesmo um híbrido, resultado da cruza das duas espécies. 

“Reintroduzir peixes-bois marinhos ou híbridos poderia promover seu cruzamento com a espécie amazônica, dando origem a novos híbridos, muitas vezes estéreis”, explica Renata Coelho Rodrigues Noronha, pesquisadora da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Segundo Renata, a distinção visual entre as duas espécies nem sempre é possível. Os indivíduos marinhos são maiores, mais claros, com unhas nas nadadeiras. Já os exemplares amazônicos são menores, mais escuros, não têm unhas, e têm uma faixa branca na barriga.

“Os híbridos são raros, mas quando aparecem trazem características misturadas. Podem ter unhas como o peixe-boi marinho e a faixa branca dos amazônicos. Ou podem ser claros como os marinhos e não ter unhas, como os amazônicos.”

Como determinar a espécie dos peixes-boi quando isso não é possível visualmente? Sempre que há necessidade de determinar a espécie de um dos órfãos, seu sangue é coletado onde quer que o bicho esteja e enviado ao laboratório de Renata em Belém. 

Com o sangue coletado dos peixes-boi órfãos, Renata investiga seu cariótipo, nome dado ao conjunto de cromossomos de uma dada espécie que apresentam forma, tamanho e número característicos.

“O peixe-boi amazônico tem 56 cromossomos. O manatim tem 48″, explica a pesquisadora.

Renata e sua equipe já investigaram dezenas de amostras de sangue de peixes-boi órfãos. O que permitiu o retorno de dezenas deles à natureza.

SAIBA MAIS!

Se você se interessou e quer aprender mais sobre os cetáceos e animais vertebrados? Então consulte o nosso conteúdo sobre “Vertebrados amniotas”.

Biota

Sobre o(a) autor(a)

Biota