Em trabalho noturno e preciso, Cristina Rheims, do Instituto Butantan, já descreveu mais de 300 espécies de aranhas

por Pedro Luna

A bióloga Cristina Anne Rheims estudava espécies pequenas de aranhas, mas logo percebeu a sua paixão pelas aranhas maiores. “Aranha pequena é muito complicada de dissecar. Eu queria trabalhar com aranhas grandes. Foi quando escolhi as Sparassidae”, conta. Cristina é pesquisadora do Laboratório Especial de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan. Ela é especialista na descrição e classificação de novas espécies de aranhas. E já descreveu mais de 300 espécies de 11 famílias diferentes.

As aranhas da família Sparassidae impressionam pelo seu tamanho. A maior de todas é a aranha-caçadora-gigante (Heteropoda maxima), do Sudeste Asiático, que chega a atingir 30 cm de diâmetro. As Sparassidae não precisam de teias para capturar suas presas. Seu comportamento é solitário, em caça permanente. O grupo é encontrado em todos os continentes, exceto a Antártica.

A família Sparassidae compreende 91 gêneros e 1.326 espécies. Uma em cada dez foi Cristina quem descreveu. “Só de Sparassidae, já descrevi 139 espécies. Ao todo, descrevi 308 espécies de aranhas de 11 famílias diferentes. Quanto aos gêneros, sou autora de 18”, diz a aracnóloga.

Em trabalho publicado na revista Zootaxa em 2022, Cristina descreveu 25 novas espécies sul-americanas de Sparassidae. Ela acredita que ainda há muito para encontrar. “Deve ter muito mais espécies desconhecidas, pois há locais onde nunca se fez coleta. Se eu continuar apenas trabalhando com Sparassidae, terei trabalho para o resto da vida.”

Aranha do gênero Extraordinarius Rheims, 2019 (divulgação Magnolia Press)

Coletando e descrevendo as aranhas

O trabalho de um taxonomista pode ser feito a partir do estudo de espécimes depositados nas coleções dos museus em todo o mundo, a partir dos quais pode ser descrita uma nova espécie ou gênero. Mas também é possível realizar expedições de campo para coletar espécimes desconhecidos – a própria Cristina já participou de diversas expedições por todo o Brasil e pela América do Sul.

As coletas acontecem sempre à noite, pois as Sparassidae são animais noturnos. A pesquisadora percorre a mata com uma lanterna na cabeça e vai procurando pequenos pontos luminosos pela vegetação. “Quando as aranhas estão paradas, seus olhos brilham com um reflexo azulado. Aí é só capturá-las. Vou coletando todos os espécimes que encontro. Em única noite, costumo coletar entre 100 e 200 aranhas.”

De volta ao laboratório, a cientista faz a triagem do material coletado. Ela separa os animais e seleciona as famílias de interesse. “Gosto de descrever espécies. Eu observo os bichos e desenho suas estruturas, faço medidas, tiro fotos, reunindo todos os dados necessários para a descrição formal”, explica.

Ao identificar um exemplar desconhecido, Cristina checa os bancos de dados online e a literatura científica para verificar se, de fato, trata-se de uma nova espécie. Em caso positivo, o estudo do animal começa por sua genitália. “Nos machos, o órgão genital é o palpo. Nas fêmeas, se chama epigino. A identificação começa pela genitália porque ela é fácil de observar, e também porque há gêneros com espécies muito parecidas. É o caso, por exemplo, das Sparassidae australianas.”

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